“Qual a poesia do vão? Olhar daqui, deste lugar nas últimas páginas do livro – depois de tê-lo atravessado, depois de ter sido atravessado por ele – para as palavras da epígrafe que o abre, o eco forte da epígrafe que o fecha, o fio que se estende entre elas, e reconhecer-se nelas. Deixar que se instale um primeiro vão: entre o objeto-livro e o vídeo da performance de John Cage, noutro objeto, em que as coisas se movem. Sair do livro, ir ao vídeo, deixar que a poeta nos leve até John Cage. Até onde as coisas poderiam se mover, mas lá também um vão – entre o ouvido que espera e o que não vem até ele, entre a ânsia de som e a recusa de dizer: vão, silêncio, oco, copo vazio. A cadeira, a mesa, o microfone: ninguém, nada, mudez. Qual a poesia desse vão?”