Evandro Cruz Silva é um dos jovens intelectuais que mais chamaram minha atenção neste início de década. Sua maneira de formular perguntas incômodas e encarar a atual realidade tem despertado não só a minha a admiração, mas também a de um bom número de pessoas que se dedicam a pensar o Brasil e seu cruel processo civilizatório sob outras lentes. Além disso, o que já não seria pouco, a singularidade de seu olhar e o seu talento na escrita também ocupam este espaço sempre em movimento que chamamos de produção literária brasileira contemporânea. Nesta sua novela, cujo título não poderia ser mais forte e emblemático, encontramos muitas camadas de uma questão ainda não suficientemente enfrentada e debatida entre nós: o ideal do branqueamento do território brasileiro. Na trama apresentada, descobrem-se camadas, receios e intimidades, contrastes e vestígios, que se resolvem e, ao mesmo tempo, se complexificam no plano ético dos laços familiares – envolvendo as simbologias e perversidades em torno do quadro A redenção de Cam, do pintor espanhol Modesco Brocos. A partir dessa escolha e de uma protagonista muito bem concebida, Evandro costura uma trama delicada, sensível, em que a dor em momento algum é contornada. Uma belíssima história sobre acolhimento, mas também sobre não se dobrar diante do banimento do futuro. Uma voz que traz consigo mover e despertar, uma voz que, eu tenho certeza, veio para ficar. (Paulo Scott)