Neste que é um dos livros de filosofia política mais relevantes escritos no Brasil. Sueli Carneiro oferece uma interpretação contundente do racismo e uma defesa de seu enfrentamento sempre pelo coletivo. onde o cuidado de si e o cuidado do outro se fundem na busca da emancipação.
Quase duas décadas após ter sido defendida na Faculdade de Educação da USP. a tese de doutorado de Sueli Carneiro chega na forma de livro com grande atualidade. Nele. a autora aplica os conceitos de dispositivo e de biopoder de Michel Foucault ao domínio das relações raciais. forjando o que chama de dispositivo de racialidade ? que produz uma dualidade entre positivo e negativo. tendo na cor da pele o fator de identificação do normal. representado pela brancura.
Especulando com Foucault e amparada na teoria do contrato racial do afro-jamaicano Charles Mills. ela demonstra como este dispositivo se constitui em um contrato que não é firmado entre todos. e sim entre brancos. e funda-se na cumplicidade em relação à subordinação social e na eliminação de pessoas negras. Ele também se efetiva pelo epistemicídio. cujo objetivo é inferiorizar o negro intelectualmente e anulá-lo como sujeito de conhecimento.
Contudo. todo dispositivo de poder produz a sua própria resistência. e é nesse contexto que a filósofa traz à obra a voz de quatro insurgentes. Seus testemunhos revelam que é da força da autoestima. da conquista da memória e da ação conjunta que se extrai a seiva da resistência.