Neste seu segundo romance. Marana Borges nos apresenta uma história onde os objetos e a arquitetura - desta vez de um casarão do século XIX - voltam a recobrar vida. Partindo de um episódio pouco explorado da História do Brasil. a autora retrata uma família no epicentro da crise econômica que assolou as fazendas de café no Vale do Paraíba. interior de São Paulo. Com o lirismo e a fina ironia característicos de sua prosa. a autora constrói personagens de grande alcance psicológico. Pelos olhos de Aparecida – que sonha em ser árvore - topamos com essa casa “ocupada mais por coisas mortas do que por gente”. O pai. figura quixotesca e inicialmente periférica da trama. é o único baluarte da razão. Ele passa o tempo a escrever cartas em defesa da recém falida monarquia ? que nenhum jornal aceita publicar. A atravessar todos os cômodos. está ela. a noite. e adentramos nela como fazem as personagens. “Dentro de noites. há noite”. Nessa casa que é uma “sucessão de quadrados abertos à força”. a narrativa rompe qualquer juízo bipolar. Porque é também de dentro da razão. e da simetria das janelas. que irrompe a loucura. “O sono da razão produz monstros”. como imortalizou Goya em sua famosa pintura. A palavra torna-se uma marreta a deitar paredes. Não há escape: para trás. a violência dissimulada em glória; para frente. um progresso que caminha em passos falsos. Com o avanço das obras que tomam o casarão. o ritmo da narrativa acelera e o leitor é levado para “dentro de outros quadrados. de quartos. de livros. de quadros. da tarde que desanda e cai” e o romance torna-se tão claustrofóbico quanto as famosas prisões imaginárias de Piranesi. Piranesi. tão sabiamente evocado no livro. já alertava para a infeliz vizinhança entre a megalomania neoclássica de seu tempo e o delírio. E aqui. não estamos longe disso.\n