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Literatura
Tudo que Morde Pede Socorro
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Em seu mais recente lançamento, Cinthia Kriemler volta a escrever sobre situações de abuso sexual e violência doméstica em uma sociedade que, por egoísmo, comodismo ou simplesmente alienação, prefere ignorar os pedidos de socorro das vítimas, submetidas a relacionamentos que se assemelham a prisões; convivências nas quais a tradição patriarcal perpetua modelos retrógrados de comportamento feminino onde até mesmo a maternidade e as tarefas domésticas servem algumas vezes como grilhões. Na verdade, em Tudo que morde pede socorro a autora avança ainda mais nos abismos da intolerância e crueldade, revelando diferentes aspectos da opressão no tempo e no espaço. Seja na pequena cidade de Baependi no sul de Minas Gerais ou na província de Ghazni no Afeganistão, no Brasil do final do século XIX ou em nossa época, a escravidão, explícita ou implícita, continua sendo uma demonstração vergonhosa do que existe de mais perverso e bárbaro no comportamento humano.

Após ler o capítulo de abertura, não consegui evitar o arrepio de emoção e fiquei imaginando e avaliando – vício irritante de todo resenhista – como a autora vai conseguir manter o mesmo tom visceral ao longo de todo o romance? A analogia entre a armadilha velha e enferrujada que prende a pata da presa indefesa e a situação vivenciada por uma vítima de relação abusiva no próprio lar é tão brilhante quanto dolorosa. A importante função de denúncia é fundamental sem dúvida, mas é impossível não se encantar com a beleza da narrativa por si só. Como bem destacou Alberto Bresciani na apresentação, citando Nabokov e Antonio Candido, denunciar as injustiças na sociedade é um papel da literatura, porém sempre mantendo o compromisso com a eficácia estética.