Ao longo do livro, o embate entre Florence e Horácio transforma-se numa analogia do que ocorre dentro da cabeça de um autor. As frases que estimulam a escrita em abismo, os trechos dos diários, as críticas ácidas, correspondências e as situações de encontros e desencontros entre as personagens são ricos materiais para compreender as nuances que compõem o fazer literário. Vinte anos é muito tempo para quem espera? E para quem se dedica a uma causa? Por vezes se tem vontade de sacudir Florence, mandá-la longe, exatamente quando queremos negar uma ideia que nos persegue sem encontrar vazão. Mas é da persistência de Florence que nasce o gosto pela escrita, este sentimento irresistível que nos faz perder dias de sol e noites de sono, testando frases, diálogos e bolando desfechos em frente ao computador, sem que ninguém nos obrigue a isso. Dedicação é a forma mais fiel de amor.
Irka Barrios