O refúgio vai sendo reconhecido aos poucos pelo leitor, assim como os acontecimentos que a levaram à reclusão. De lá, às voltas com a arquitetura de monastério da casa, o acervo literário e afetivo da Hilda, seus cachorros e o céu aberto de Campinas, ela repensa a criatividade, a condição humana, Deus, morte e a responsabilidade de escrever sobre alguém que já morreu.
Ao pesquisar os principais livros que marcaram Hilda Hilst (Carta ao Grego, de Nikos Kazantzákis, A negação da morte, de Ernest Becker, A decadência do Ocidente, de Oswald Spengler, entre outros), ela reorganiza sua visão de mundo e seus laços afetivos com a família enquanto refaz o traçado de uma obra e seu próprio entendimento sobre ela, carregado de intensidade e ironia. Ao encontrar os pontilhados do caminho da escrita de Hilda, decide que o livro encomendado será bem diferente daquele que o editor quer. Terá, como fundação aparente da casa, como tijolo feito de argila e sonho, o amor dos leitores, aqueles que a Hilda dizia não ter.
* Marduk, nome de rei babilônico, pai do deus da escrita, da sabedoria e da literatura, é também um planeta hipotético estudado por Zecharia Sitchin, onde morariam figuras ilustres das letras e das ciências como Einstein e Julio Verne. Hilda Hilst, considerada por muitos críticos um dos grandes expoentes da literatura brasileira, seguiu para lá às 3h50m do dia 4 de fevereiro de 2004. Irredutível à ideia da finitude, ela acreditava na vida após a morte.