A história nos chega enquanto Mauricéa está de cama, na casa que divide com duas amigas, Izildinha e Paula Klee. Está imobilizada, devido às sequelas de um traumatismo craniano que sofreu, quando foi surrada por uma gangue de, acredite, outros velhos. É interessante que Adrienne Myrtes tenha escolhido para os criminosos a idade da velhice, revelando uma continuidade: o que, a princípio, soa inusual para uma gangue de caçada a pessoas LGBT, logo nos leva a refletir sua atualidade. Há pouco, na própria realidade brasileira, um senhor de 63 anos, ocupante de cadeira legislativa e concorrendo à Presidência da República, vociferava em vídeos de redes sociais e programas de televisão seu preconceito contra gays. Os problemas não resolvidos com a sexualidade duram o ódio de uma vida inteira, velhos capazes de espancar o que julgam ser um homem vestido de mulher podem estar na fila do posto de saúde. E estavam.