Vozes antigas. medievais. modernas. contemporâneas sussurram um nome: Lilith. Primeira mulher. mulher-coruja. deusa. demônio. em mitologias. nos livros oriundos das tradições orais. na Bíblia. na Torá. no Talmud. nos amuletos de Arslan Tash. na demonologia suméria. no poema épico Gilgamesh. na ficção atual há ecos de seu nome. No Gênesis. especificamente. entre o primeiro capítulo. no versículo 27. e o segundo capítulo. versículo 18. se Lilith esteve. desapareceu. “Criou Deus. pois. o homem à sua imagem. à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1:27) “Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.” (Gn 2:18) Conta-se que Lilith fugiu para o Mar Vermelho. porque criada do barro em igualdade com Adão. rebelou-se quando ele quis submetê-la. fazendo-a ficar sempre “por baixo”. Por isso no segundo capítulo foi preciso criar outra mulher; desta vez “idônea”. leia-se submissa. Eva “torna-se mulher”: a responsável pela queda da raça humana. Não importa se o mito bíblico quer ou não ser literal. Importa a forma como é usado nos púlpitos. a forma como impacta de maneira real a vida (e a morte) das mulheres nos seus significados. nos seus sistemas de crenças. nas suas simbologias. enquanto tenta justificar as teorias e as práticas misóginas. Da rebelião de Lilith ao silenciamento de Eva. metade da humanidade resolveu subjugar a outra metade. Essa história não era para ser contada. Mas Eva descobrirá Lilith e dará nome a todas as coisas.