Logo no início do Diário da casa arruinada, temos uma nota do autor na qual ele relata que o romance em questão é na verdade a transcrição de um caderno de anotações encontrado casualmente numa casa em ruínas. Seguindo, portanto, esse formato de diário, o livro logo nos coloca em contato com o personagem principal: Quim, um escritor frustrado que, além de registrar dia a dia o desafio de largar o vício do cigarro, usa a escrita como instrumento de investigação para seus traumas e conflitos conjugais. Um homem que parece não querer ver o que está diante de si. Daí a necessidade da escrita, pois essa vai lhe revelar coisas que não consegue ver sozinho. Ou não quer ver. A narrativa é construída sobre o drama das ruínas do seu casamento com a artista plástica Madalena, com a qual tem uma filha chamada Selene. Os meandros da convivência, os silêncios da vida conjugal, os fotogramas da derrocada e a perda do romantismo são elementos que conduzem a trama por um desenrolar de lembranças e vivências permeadas de linguagem poética e reflexões filosóficas. O leitor é, então, guiado para um desfecho cujo teor horripilante contrasta com a brandura do caminho.