Moacir é um presidiário sentenciado a 30 anos de prisão por assassinato- Por bom comportamento- acaba de ser transferido para uma cela com direito a uma pequena janela- por meio da qual pode enxergar uma fração de mundo- Nem isso ele deseja- Sua cela é o seu mundo- Ou poderia ser- caso não precisasse dividi-la com João- que prefere ser chamado de Joana-
Onde qualquer um enxergaria uma fresta de liberdade- Moacir só vê ameaças- A luz do dia e a presença de João/Joana rompem uma lógica duramente construída ao longo de sua formação como homem- Curiosamente- Moacir é um leitor ávido- Mas- em vez de ampliar seus horizontes- os livros só servem para trancafiá-lo- cada vez mais- em um universo que reforça a única masculinidade que aprendeu a identificar como sua-
Acompanhar os movimentos da mente de Moacir exige do leitor um exercício de compaixão difícil de ser realizado- Machista- racista- homofóbico- está longe de ser um assassino frio- Pelo contrário- é um homem tomado pelas próprias emoções- aprisionado em si-
Poucas vezes se viu um romance pinçar a jugular do machismo estrutural com tanta precisão- Desenhar o perfil de um dos tantos Moacir que encontramos nas manchetes dos jornais sensacionalistas não é tarefa para amadores- Exige um sofrido exercício de alteridade- um mergulho quase suicida na formação da própria masculinidade e um domínio seguro da linguagem-
Nada disso seria surpresa se estivéssemos falando de um romancista experiente- mas Antônio Mariano nos apresenta seu romance de estreia- Até então conhecido – e reconhecido – poeta paraibano- com breve incursão pelo conto- resolveu- em Entrevamento- meter o pé na porta do mundo da prosa longa- E o fez com força e coragem-