Desterrilha narra a possibilidade de um crime cometido entre pessoas enclausuradas em suas vidas normais na pacata comunidade do “Pantanal”- situada numa ilha do sul do país- Utilizando recursos que buscam enganar e despistar o leitor- como num jogo- a narrativa é conduzida em primeira pessoa por um professor de literatura que após deixar sua cidade natal (Porto Triste)- já desterrado do passado- da família e das lembranças da cidade natal- aos poucos pensa também em se livrar da literatura em sua vida sem perceber que dia após dia se enreda cada vez mais em sua própria ficção- Do tempo o que conhece são as horas do ponteiro do relógio a cada nova interrupção do sono durante a madrugada- Do espaço- apenas o confinamento de seu apartamento ou da sala de aula onde leciona- Como um Quixote- seu mundo é o da imaginação- o do jogo da ficção - única possibilidade de vida- A dúvida que a narrativa provoca no leitor é parte do processo sofrido pelo próprio personagem- Entremeada- ao longo do livro- por séries de perguntas disparadas por um interlocutor que- ao final- se revela como o delegado que investiga o suspeito de um suposto crime- a técnica utilizada busca instigar e conduzir o leitor- por intermédio de pistas e despistes- ao desfecho do livro que acaba se revelando inacabado- obra aberta- um caminho circular que não encontra forma de atar suas pontas-
-Loucura- sonho- realidade acústica? E qual leitor ou delegado poderia acreditar no culpado de um crime lendo ou ouvindo apenas o que um professor de literatura tem a contar?-