Mulheres abandonadas- Desde sempre- a literatura é permeada de histórias trágicas de figuras fascinantes- como Medeia e Dido- que se desfazem diante do abandono masculino- Emma Bovary e Anna Kariênina- personagens inesquecíveis- também sucumbem- A mesma Simone de Beauvoir de O segundo sexo escreveu A mulher desiludida- antologia de contos sobre personagens despedaçadas- uma delas por essa mesma via- No século xxi- Elena Ferrante atualiza a tradição- criando personagens que definham ou enlouquecem depois de dispensadas ― é o caso de Olga- em Dias de abandono- que se vê confrontada com novas questões: Como pode uma mulher padecer -de amor- nos anos 2000? A própria ideia de abandono já não soa anacrônica em nossos dias? Agora é a vez de Natalia Timerman e seu Copo vazio- O romance conta a história de Mirela- uma mulher inteligente e bem-sucedida- que acaba submergida em afetos perturbadores quando se apaixona por Pedro- O livro perscruta a vulnerabilidade de sua protagonista sem constrangimentos- Há algo de ancestral- talvez atemporal- no sofrimento de Mirela- que ecoa a dor de todas essas mulheres- Mas há também elementos contemporâneos: a forma de vida nas grandes cidades e as redes sociais são questões que acentuam os dilemas- Mirela tem emprego- apartamento- família e amigos- porém parece ser bastante solitária- Quando conhece Pedro- ela se preenche de energia e entusiasmo- e fica obcecada não só por ele- mas por essa versão de si mesma- O que fazer quando ele desaparece de repente- sem explicações? Depois de publicar contos- poemas e ensaios- Natalia Timerman comprova a versatilidade de sua escrita num mergulho de fôlego no mundo psíquico de sua protagonista-