Como seria a experiência de atravessar a realidade da morte- quase adentrá-la- mas sobreviver como quem renasce da dor de um parto natural? A protagonista de “Bela tem um segredo” tenta dar conta de nos mostrar esse acontecimento- com um olhar ternamente metafísico- depois de internada por meses num leito de hospital- com Covid-19- Narrativa contemporânea- esta é- essencialmente- uma história de amor- Universos particulares de personagens delicados e densos nos revelam um mundo de verdadeiros afetos- durante o caos de uma pandemia que assolou o mundo e- em particular- o Brasil- Cada um desses personagens é dotado de um realismo tocante- que poderia pertencer à realidade de qualquer leitor- Bela- médica aposentada- e sua família aparentemente banal- composta pelo marido de idade avançada- a filha- médica pediatra- e o genro- também médico na linha de frente no combate à pandemia- formam o núcleo central de um desenrolar de encontros que parecem marcados por um destino surpreendentemente generoso- O segredo da protagonista surge- na narrativa precisa de Regina Taccola- como uma espécie de catarse que a liberta nessa estranha dança com a morte- com a sabedoria de quem sobrevive aos naufrágios da existência e o talento de quem se conecta com a Vida um degrau acima- só é possível com certa dose de magia- uma graça consentida a poucos-